terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O verbo ler não suporta o imperativo. Aversão que partilha com alguns outros: o verbo ‘amar’... o verbo ‘sonhar’... Bem, é sempre possível tentar, é claro. Vamos lá: ‘Me ame!’ ‘Sonhe!’ ‘Leia!’ ‘Leia logo, que diabo, eu estou mandando você ler!’”

Em Como um Romance (Rocco e L&PM, 2008, R$14), Daniel Pennac (1944) fala sobre como as crianças são interessadas no mundo da leitura, em aprender a ler, têm curiosidade nas histórias que seus pais contam ao pé da cama antes de dormir. Mas ao crescer, a obrigação da leitura imposta pela escola, faz com que essa vontade do desconhecido se torne cansativa, sem prazer.
No ensaio, os pais contam, através da visão do casal, como a criança passa do amor aos livros para a aversão total. Durante o processo, Pennac cita vários títulos e autores, a forma do amor aos livros, o clamor para que sejam lidos. E o texto transmite certo desespero, uma tristeza imensa pela falta da cultura da leitura, da cumplicidade com o livro, torná-lo amigo, mas não guardar seus segredos, gritá-los para que todos compartilhem de um mesmo prazer: ler.
Na página 69 temos uma triste e real citação de Klaus Mann (autor de Mefisto), que pode descrever bem a realidade da escola, também da brasileira, onde deveriam adquirir o gosto pela leitura:
“Tudo que possuo de cultura literária adquiri fora da escola”.
A maioria aprende a ter desprezo pelos livros e muitas vezes com incentivo em casa: “enquanto que hoje... Os adolescentes são clientes totais de uma sociedade que os veste, os distrai, os alimenta, os cultiva: onde florescem os mcdonald’s e as marcas de jeans, entre outros”.
Como um Romance foi publicado pela primeira vez em 1992, a primeira edição brasileira data de 1993, apesar dos 20 anos que separam a primeira edição do ano em que estamos, se faz totalmente atual. E também para aqueles que leem, mas esqueceram do prazer que a leitura proporciona, o autor diz:
Eles tinham simplesmente esquecido o que era um livro, aquilo que ele tinha a oferecer. Tinham se esquecido, por exemplo, que um romance conta antes de tudo uma história. Não se sabia que um romance deve ser lido como um romance: saciando primeiro nossa ânsia por narrativas”.
“... eles não valorizam a criação, mas a reprodução de ‘formas’ preestabelecidas, porque são uma empresa de simplificação (quer dizer, de mentira), quando o romance é a arte da verdade (quer dizer, de complexidade) (...) Resumindo, uma literatura do ‘pronto para o consumo’, feita na fôrma e que gostaria de nos amarrar dentro dessa mesma fôrma”, diz Pennac sobre os maus romances, aqueles que são feitos para vender e sem nenhum amor por parte do “autor”, como se dá hoje, tantos títulos e muitos sem nenhum sentido além da busca incessante pelo dinheiro.
Há ironia sem dosagem quando fala dos métodos:
“Não importa... ele intervém, bem a propósito, para nos lembrar que a obsessão adulta do ‘saber ler’ não data de ontem... nem a estupidez dos achados pedagógicos que se elaboram contra o desejo de aprender”.
Como um Romance é exatamente a relação que deveríamos ter com os livros. Uma obra para apaixonados pela leitura, que sentem essa ânsia, esse desejo de que todos deveriam se interessar pelo mundo dos livros, afinal ele é mágico.

Um comentário:

  1. Olá, você pode colocar meu nome na resenha? Afinal fui eu que a escrevi aqui:

    http://mundodefantas.blogspot.com.br/2012/01/resenha-como-um-romance-daniel-pennac.html

    Obrigada.

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