sexta-feira, 16 de novembro de 2012

 
José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa em 25 de fevereiro de 1855, morreu em Lisboa a 19 de Julho de 1886, vítima de tuberculose.  Filho de um lavrador que se tornou negociante, passou sua curta vida praticamente entregue aos interesses paternos, gozando no entanto de uma situação econômica confortável que lhe possibilitava entregar-se a leituras que começou a fazer cedo. Chegou a freqüentar o Curso Superior de Letras, sem estar presente no ambiente literário assiduamente. Nessa época tornou-se amigo de Silva Pinto, que lhe editaria um ano após sua morte o único volume de poemas: O livro de Cesário Verde.
            Podemos apreciar a modernidade urgente da sua poesia, que cabe toda em 166 páginas (reedição de Dom Quixote, com fixação de texto e nota introdutória de Joel Serrão e revisão e notas de Jorge Serrão). Cesário Verde pode ter morrido cedo, pode ter sido esquecido, pode ter sido uma das vítimas da sombra pessoana projetada sobre quase toda a poesia portuguesa posterior. Continua a ser um dos maiores poetas da língua. Cesário Verde é mais conhecido por causa do seu “Sentimento de um Ocidental”, que a vulgata adotou como tema e transfiguração de uma Lisboa de fim de século.
            Em 1887, com uma tiragem de 200 exemplares, foi publicado pela primeira vez O Livro de Cesário Verde. Cesário é mais um poeta do século XX do que do século em que nasceu, e a sua linguagem, estilo, métrica, vocabulário, a concisão dos seus “alexandrinos originais e exatos”, como ele diz, sagram-no como um dos inventores da língua portuguesa, pois Cesário libertou a língua das amarras do lirismo piegas e do sentimento exaltado, das teias de aranha do ideal parnasiano e do romantismo rendilhado.
            Sua poesia se alimenta do prosaico, do concreto, do cotidiano. Poesia que muda os dias finados do famoso spleen, essa vaga inquietação existencial, esse mal-estar, essa indisposição, numa atitude estética que precede as interrogações e angústias ontológicas da modernidade. Cesário usa o português sem “rodriguinhos nem enfeites” (expressão portuguesa), usa a seriedade de uma língua sem lhe roubar a riqueza. O mais pequeno e simples, trivial e despercebido, passando pelos olhos de Cesário, torna-se grandioso e complexo, especial e observado, objeto de reflexão e fonte de inspiração. Cesário Verde conseguiu dar expressão poética à realidade objetiva e cotidiana. Na sua obra, ganham beleza e sentido o cabaz da hortaliça, os frutos, a madeira das árvores, os instrumentos de trabalho dos carpinteiros, as ruas de Lisboa, as vitrinas das lojas, as manhãs atarefadas e as noites alumiadas a candeeiros a gás. Tudo isto é tratado de uma forma impressionantemente exata, numa linguagem simples, coerente e comum.
            Poeta da cidade, um dos maiores em qualquer tempo em qualquer língua, por isso mesmo que genuíno, original, profundamente renovador, quer ao descrever os quadros e os tipos citadinos, quer ao denunciar, em sóbrias palavras, as atitudes subjetivas provocadas pela vida exterior.
            Cesário tem o culto da descrição, da contenção. A sensibilidade e a fantasia são nele dominantes pela estética anti-romântica, pela reserva irônica, pela sábia composição, pelo gosto de polir a frio os seus versos.
 

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