NOITE
FECHADA
Toca-se
às grades, nas cadeias. Som
Que
mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O
Aljube, em que hoje estão velhinhas e criancas,
Bem
raramente encerra uma mulher de "dom"!
E
eu desconfio, até, de um aneurisma
Tão
mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À
vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me
o coração que se enche e que se abisma.
A
espaços, iluminam-se os andares,
E
as tascas, os cafés, as tendas, os estancos
Alastram
em lençol os seus reflexos brancos;
E
a Lua lembra o circo e os jogos malabares.
Duas
igrejas, num saudoso largo,
Lançam
a nódoa negra e fúnebre do clero:
Nelas
esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim
que pela História eu me aventuro e alargo.
Na
parte que abateu no terremoto,
Muram-me
as construções rectas, iguais, crescidas;
Afrontam-me,
no resto, as íngremes subidas,
E
os sinos dum tanger monástico e devoto.
Mas,
num recinto público e vulgar,
Com
bancos de namoro e exíguas pimenteiras,
Brônzeo,
monumental, de proporções guerreiras,
Um
épico doutrora ascende, num pilar!
E
eu sonho o Cólera, imagino a Febre,
Nesta
acumulação de corpos enfezados;
Sombrios
e espectrais recolhem os soldados;
Inflama-se
um palácio em face de um casebre.
Partem
patrulhas de cavalaria
Dos
arcos dos quartéis que foram já conventos;
Idade
Média! A pé, outras, a passos lentos,
Derramam-se
por toda a capital, que esfria.
Triste
cidade! Eu temo que me avives
Uma
paixão defunta! Aos lampiões distantes,
Enlutam-me,
alvejando, as tuas elegantes,
Curvadas
a sorrir às montras dos ourives.
E
mais: as costureiras, as floristas
Descem
dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes
a elevar os seus pescoços altos
E
muitas delas são comparsas ou coristas.
E
eu, de luneta de uma lente só,
Eu
acho sempre assunto a quadros revoltados:
Entro
na brasserie; às mesas de emigrados,
Ao
riso e à crua luz joga-se o dominó.
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